Será que o inferno existe ou é apenas uma invenção da religião para colocar medo nas pessoas? Quantas vezes você já ouviu pessoas dizendo que se você fizer isso ou aquilo você vai para o inferno? Será mesmo que esse lugar existe?
A Bíblia deve ser a única fonte
Tratando-se de um assunto como este, que envolve o destino de pessoas, nós não podemos errar. Por isso não cabe aqui opinião pessoal nem tradição religiosa, muito menos recorrer a experiências sobrenaturais como sonhos ou supostas “visitas” ao inferno. Tudo isso é extremamente perigoso, a Bíblia deve ser nossa única fonte e nós não podemos ir além do que está escrito (1Co 4.6). É aqui que nós temos que separar o que nós queremos acreditar, daquilo que a Bíblia ensina.
Antigo Testamento
No Antigo Testamento fica muito claro que haverá salvação e que também haverá condenação (Dn 12.2), mas não fala especificamente sobre o inferno. A palavra utilizada é Sheol, mas Sheol não significa inferno (Dt 32.22). Sheol é uma palavra hebraica que dependendo do contexto em que é usada pode significar “morte”, “sepultura”, “abismo” ou simplesmente “destino dos mortos”.
Novo Testamento
Já no Novo Testamento nós temos a palavra grega Hades, que é equivalente ao Sheol, e significa “mundo dos mortos”, seria o local onde os mortos aguardam pelo julgamento, e apesar de algumas traduções utilizarem a palavra “inferno” (ex.: Lc 16.22-23, Ap 20.14), Hades também não é inferno.
A Bíblia não fala sobre inferno?
Mas isso não quer dizer que a Bíblia não fale sobre inferno. Aliás, quem mais falou sobre o inferno foi o próprio Jesus (Mt 5.30, Ap 20.15). As palavras utilizadas para se referir ao inferno foram Geena e também “lago de fogo”.
Alguns argumentam que Geena não é inferno, pois originalmente tratava-se de um lugar onde se queimava lixo fora de Jerusalém, mas isso não desqualifica o sentido espiritual de Geena, afinal, Jesus sempre utilizou algo comum do cotidiano para ilustrar uma verdade espiritual (Mt 13.34-35, Lc 12.5), e neste caso Ele estava claramente se referindo ao destino final dos ímpios de todas as épocas, inclusive da nossa.
Resumindo: quando a Bíblia usa Sheol ou Hades não fala sobre o inferno, mas quando a palavra é Geena ou “lago de fogo”, aí sim estamos falando do lugar de punição. Estamos falando do inferno! O inferno existe!
Como é o inferno?
Mas ao contrário do que muitos pensam, a Bíblia não diz que o inferno (1) é um lugar onde o Diabo reina e os demônios torturam pessoas, (2) também não diz que é um local onde os pecadores se divertem, (3) não diz que o inferno seja no centro da terra, e (4) deixa claro que não tem ninguém no inferno ainda, nem o Diabo (Ap 19.20, Ap 20.10,14-15).
O que Jesus disse sobre o inferno?
A Bíblia ensina que os mortos ressuscitarão para serem julgados e condenados (Ap 20.12-13). Corpo e alma serão lançados no inferno (Mt 13.42). Jesus descreveu o inferno como um lugar de escuridão, tormento, tristeza, vergonha e revolta.
As palavras que Jesus utilizou para ilustrar esse lugar foram: fogo, trevas, choro, vermes e ranger de dentes (Mt 8.11-12, 13.49-50, 18.8-9, 22.13, 25.30, Mc 9.43-44, Lc 13.28).
Extinção eterna ou punição eterna?
Que o inferno é um lugar terrível não há dúvidas. Pense na pior dor que você já sentiu na vida, seja física (no corpo) ou emocional (na alma). O inferno é um local onde essas dores são intensificadas e prolongadas. E o que muitos perguntam: “por quanto tempo?”.
Os ímpios serão aniquilados?
Alguns entendem que o inferno é um local de extinção eterna e não de punição eterna. Para defender essa ideia são citados alguns textos do Antigo Testamento como “os maus serão eliminados” (Sl 37.9,34), “tu destróis todos os infiéis” (Sl 73.27), “os ímpios perecerão” (Sl 37.20, Pv 11.10, Sl 68.2), porém, o contexto destas passagens não parece indicar que se trata de uma extinção eterna, mas sim uma referência a existência terrena, pois os termos “eliminar”, “destruir” e “perecer” também são utilizados para falar sobre a morte do justo (Mq 7.2 e Is 57.1), e nós sabemos que o justo viverá para sempre.
Já no Novo Testamento, uma das passagens utilizadas para defender essa aniquilação do ímpio é Mateus 10.28, onde Jesus diz:
“E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer (destruir) no inferno tanto a alma como o corpo.” Mt 10.28
A argumentação é que “fazer perecer” ou “destruir” seja o mesmo que “aniquilar” ou “deixar de existir”. Mas o problema é que nem sempre algo que é destruído deixa de existir, como por exemplo um carro que é destruído não desaparece, apenas deixa de servir para o propósito pelo ele qual foi criado, e é o que também parece ser a ideia do outro versículo utilizado, que é 2 Tessalonicenses 1.9:
“Eles sofrerão a pena de destruição eterna (perdição eterna), a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder.” 2Ts 1.9.
Se utilizarmos o mesmo raciocínio, e entender que “destruir” é “deixar de existir”, o versículo fica totalmente redundante, não haveria a necessidade de falar “separação da presença do Senhor” e nem “da majestade do seu poder”.
Além destes dois versículos, alguns afirmam que a expressão “segunda morte”, que acontece três vezes em Apocalipse (Ap 2.11, Ap 21.8, Ap 20.14), também se refere a aniquilação do homem no lago de fogo, porém, a palavra “morte” no Novo Testamento é frequentemente usada para se referir ao estado do homem em relação a separação de Deus e não à morte literal. (Lc 15.24, Ef 2.1, Cl 2.13).
Um outro agravante é que no contexto onde a Bíblia usa o termo “segunda morte” também aparecem frases como “para todo sempre” e “dia e noite” (Ap 20.10,14).
Em todos estes casos, tudo indica se tratar de uma separação definitiva de Deus e não uma aniquilação completa, por isso, para afirmar que “destruição” ou “segunda morte” significa dizer que o homem será aniquilado e deixará de existir, é preciso forçar demais o texto e ser tendencioso na interpretação.
O sofrimento no inferno será eterno?
Agora, veja com atenção ao que Jesus disse:
“E [os ímpios] irão para o tormento eterno (kolasis aionios), mas os justos para a vida eterna (zoen aionios).” Mt 25.46
Fica alguma dúvida? Dá para entender o porquê que este versículo é um dos maiores problemas para aqueles que defendem a aniquilação do ímpio.
A expressão grega para “tormento eterno” é kolasis aionios. E é verdade que aionios também pode significar “ao longo da vida” ou “durável” e não somente “eterno”. Mas o versículo também usa a expressão zoe aionios para “vida eterna”. Seria muito arriscado pensar que a mesma palavra teria sentidos diferentes na mesma frase e no mesmo contexto.
E a ideia de “tormento eterno” não acontece apenas em Mateus 25, nós temos “fogo eterno” (Mt 18.8), “vergonha e desprezo eterno” (Dn 12.2), “atormentados dia e noite, para todo o sempre” (Ap 20.10), “reservadas para sempre as mais densas trevas” (Jd 1.13, 2Pe 2.17), “onde o verme não morre e o fogo nunca se apaga” (Mc 9.44), e “não há repouso nem de dia nem de noite” (Ap 14.11).
Todas estas passagens demonstram que a possibilidade do tormento no inferno ser algo eterno é enorme! Tanto para o Diabo e seus anjos (Mt 25.41), quanto para o homem (Ap 20.15).
O inferno é injusto?
Muitos ainda argumentam que não tem como o inferno ser justo se a punição é a mesma para todos, porém, a Bíblia traz fortes evidências de que o sofrimento será mais intenso para uns do que para outros, de acordo com o que foi feito em vida (Ap 20.12-13).
Frases como “estes receberão maior condenação” (Lc 20.47, Tg 3.1), “serão castigados mais severamente” (Mt 23.14), “condenação mais severa” (Mc 12.40), dão a entender que a condenação será mais rigorosa para aqueles que conhecem a verdade mas não a praticam (Lc 12.46-48) e para aqueles tiveram mais oportunidades para arrependimento (Mt 11.23-24). Mas uma coisa é certa: o inferno será o destino de todos aqueles que não seguem a Cristo nesta vida (Jo 3.18, Jo 3.36).
Deus é soberano!
O que nós, meros seres humanos, precisamos entender é que Deus é o Senhor do Universo! Porque será que nós relutamos tanto em admitir que Deus é livre para fazer o que Ele bem entender?
A grande pergunta é: e se Deus quiser? (Rm 9.22-23). E se Deus decidiu glorificar seu nome trazendo salvação eterna e decidiu demonstrar seu poder e sua ira contra o pecado com uma punição eterna? E se Deus decidiu fazer isso? Você se recusaria a acreditar nele? Você se recusaria receber a salvação eterna porque “não acha justo”?
Somos nós que definimos o que Deus pode fazer ou não? (Jó 42.2, Sl 115.3). Como pode a criatura questionar o criador? (Rm 9.20, Jó 40.2, Is 55.8-9). A própria Bíblia diz: “Não agirá com justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25).
O inferno é incompatível com um Deus que é amor?
E se o inferno é algo incompreensível pra nós, Deus fez algo ainda mais incompreensível. Ele enviou seu único filho, que deixou sua glória (Jo 1.10-14), para nascer e ser educado por seres que Ele mesmo criou, pra depois ser humilhado, torturado (Is 53.5-6), perfurado com pregos nas mãos e nos pés, ter uma coroa de espinhos cravada na cabeça e ser morto sem ter culpa alguma.
Você daria seu filho para salvar qualquer pessoa que fosse? Certamente não. Pois é, Deus fez isso, assim como tudo aquilo que Ele descreveu nas Escrituras e fará tudo aquilo que as Escrituras ensinam (Mt 5.18), inclusive sobre o inferno.
Por que será que Jesus usou palavras tão duras e assustadoras ao se referir ao inferno? A resposta é simples: por amor! (Pv 3.12) Jesus conhece profundamente a realidade do inferno, e Ele mesmo garante:
“Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida.” Jo 5.24
A realidade do inferno torna ainda mais magnífico o perdão de Deus estabelecido na cruz, pois revela sua profunda ira contra o pecado (Cl 3.5-6) e a extraordinária graça da cruz (Rm 5.21).
A eternidade do inferno expõe a gravidade do nosso pecado e revela claramente o favor imerecido de Deus sobre nós. Mostra que Jesus Cristo escolheu livremente suportar a ira que eu merecia (Rm 5.8-9), para que eu possa ficar longe desse lugar (1Ts 1.10) e experimentar vida na presença de Deus. Esse amor é indescritível (2Pe 3.9).
Referência bibliográfica:
CHAN, Francis e SPRINKLE, Preston. Erasing Hell: What God Said About Eternity, and the Things We’ve Made Up. David C. Cook; 1st edition, 2011.